Um desabafo sincero demais

(de um coração escuro demais)

Eu sinto ânsia, sinto nojo. Tenho vontade de sumir. Sinto-me presa, e me sufoca. Vejo suas mãos se aproximando, pressionando minha garganta. Sou incapaz de pensar. Queria ter forças pra fugir. Sair daqui. Me libertar de todos vocês. Amaldiçoar tudo. Sair correndo por aquela porta, pra nunca mais voltar. Nunca mais olhar pra cara de vocês. Nunca mais aturar injustiça, humilhação, descaso disfarçado de interesse.

Queria extinguir a dor que me assola, nessa hora mais que antes. Queria extirpar vocês da minha vida. Queria, por um momento que fosse, que isso voltasse a me fazer bem. Queria ficar bem de novo. Queria nunca mais ter que fingir, porque cada sorriso dói, reabre a ferida, e eu sangro por dentro enquanto ninguém vê. Queria um minuto de calma, um dia de tempestade pra parar de pensar. Deixar o cair das águas e o retumbar dos trovões falar por mim.

Queria que alguém se importasse. Queria que olhassem pra dentro. Queria que o lado de dentro valesse mais que o lado de fora. Queria que encarassem meus olhos a fundo. Meus fundos olhos, que tem nada a dizer e tanto a mostrar. Queria que tivessem coragem. Mas é muito mais fácil aceitar só o que se quer. É muito mais fácil deixar tudo como está. É muito mais fácil simplesmente não ligar.

Estou fadada a olhar pra dentro de mim sozinha. E encarar a mim mesma do avesso, quando todos vão embora e eu me transformo no monstro que sou. Sabe, há muito mais nessa vida do que só isso. Porém é muito difícil se desprender. A bagagem é muito grande e pesada. Me arrasta pra trás, me puxa pra baixo. É um esforço descomunal todo santo dia, o de dar um passo a frente.

Eu prometi que vocês nunca mais iam me deixar mal. Prometi pra mim mesma que nunca mais me deixaria abater. Eu odeio não cumprir as coisas que prometo. Odeio sentir que não tenho palavra. Eu só queria ser forte o suficiente pra continuar tentando. Queria seguir os conselhos que eu dou. Queria ser forte como eu queria ser. Queria saber sorrir quando tudo está desmoronando por dentro, como eu sou quando tudo desmorona aí fora.

É como se eu estivesse desmembrada, separada em pedaços. E nada disso faz sentido, eu sei. Começou com o orgulho, como sempre começa pelo meu orgulho. E termina com a minha destruição. Minha auto piedade. Minha dor, que volta sem eu querer. Minha crise que me assombra há meses, enquanto eu continuo, em vão, tentando evitar.

No final das contas, eu só quero que tudo se foda.

Deixe um comentário