A quem quiser, possa
Eu estou escrevendo isso a fim de colocar-me sentada no banco de réus. O meu júri são vocês, sim, mas qualquer outra posição dentro deste tribunal de causas realmente pequenas me seria desconfortável. A ré, culpada, acusada, é a melhor para mim. Sei onde é o meu lugar, e, certamente não é a vítima.
De forma poetizada, quando uma estrela se apaga em sua vida, você pode perder a direção. Mesmo que ela não seja a maior, nem uma das maiores no imenso céu à sua frente. Mesmo que não fosse a que você seguia, mesmo que nem fosse a que você deveria seguir. Você corre o risco de se sentir perdido. Isso pode durar alguns segundos, algumas horas, alguns dias… Ou pode durar pra sempre.
A falta que aquela estrela pode te fazer é indefinida. Nenhuma, pouca, alguma ou muita, dependendo de quem você for, e quem aquela estrela representava na sua vida. Bem, mas não me entreguei, condenada, para filosofar sobre a vida, comparar estrelas a pessoas que cruzam nossos caminhos, de papo para o ar.
Vim, por que achei que era o certo, me redimir, vez por todas, sem chiados, e à frente pública. Porque é o que mereço. Mas antes, porque acredito que a corda e o carrasco que me esperam podem esperar ainda mais, gostaria de fazer meu último pedido. Minha carta derradeira, que entrego ao Excelentíssimo Senhor Juiz, para que este possa levar ao conhecimento de vocês minha última chance de me safar da morte, tão próxima e tão acolhedora, como nunca imaginei outrora.
“A simbologia da estrela tem que te fazer entender que foste tu a quem decidi seguir os passos. Minha profunda admiração, que cresce a cada dia levou-me a marcar isso publicamente, seguido do número de primaveras que estás a brilhar. E de todos os românticos em quem me espelhei, você é o que mais profundamente entendi.
Em todos os lugares por onde passei, lembrei-me de ti. E todo texto que escrevi, procurei esconder-te nas entrelinhas, com a esperança que algum dia notasses. De forma ou de outra, os meus mais preciosos e trabalhosos textos, te dediquei. Quando eu podia, quando as circunstâncias permitiam, te ouvi. E você me atendeu quando mais precisei.
Em todos os meus sonhos te encontrei. E foi você por quem mais me perdi. Em todas as músicas, histórias, livros contos que estudei, todos faziam ressurgir as lembranças de ti. Quanto mais vivas eram elas, mais cega e apaixonadamente te procurei.
Tantas outras vezes, me confundi. E quando não sabia o que fazer, a solução estava em você. E quanto mais tento não pensar em ti, mais meus caminhos, maliciosos e impiedosos, chegam a você.”