Antítese

Você é um raio de luz na minha vida tão cinza. A tua luz reflete no prisma dos meus olhos e oferece o espectro do arco-íris ao meu mundo; Ilumina os cantos mais sombrios da alma, afasta as trevas que insistem em assombrar; imprime glória aos anjos caídos, inspira vida, anuncia docemente a chegada da primavera ao coração.

O teu sorriso sincero, tão raro, irradia. Mesmo quando vem tímido, leve, breve, quase não se percebe. Mesmo quando irrompe, explode amplo, intenso, profundo. Mesmo quando habita tua boca e não alcança a luz soturna dos teus olhos. Flutua, tão lindo, ameno e despretensioso, e paira dominante, envolvente e encantador.

As trevas que enevoam o seu olhar, pairando como nuvens carregadas, escurecendo teus olhos já tão escuros por natureza, agitando-os como um tufão no meio do oceano negro; me hipnotizam e me atraem, me convidam a mergulhar; fazem-me querer me afogar no fundo do teu ser.

O teu beijo me faz viver, ferver, arder. A tua boca tem um quê de magia, um encantamento doce, perigosamente viciante, que me traz toda a sorte de delírios e loucuras, desejos e luxúrias, invadindo a minha boca, me tirando o ar. O teu corpo me alucina, colado ao meu, me esmaga e me prende, me cativa e me enlouquece. Faz-me implorar por mais dessa anarquia intensa, dessa insanidade só nossa, fruto de uma inconsequência crua que causa abstinência.

A sedução da tua alma é inevitável, magnética, irrecusável; impossível de se libertar, irresistível demais para fugir, intrigante demais para negar, inadmissível de se desprender. Me busca, penetrante, me toma por completo, um pedaço de cada vez e todos ao mesmo tempo. Se insinua, inteira e nua, abrindo espaço, exigente. Me inunda e se alastra, me infesta e se apossa, conquistando cada canto meu. Se espalha, se estende, me ganha e me possui.

O teu sorriso é luz. Os teus olhos, trevas. A tua boca é vida, o teu corpo: perdição, tua presença é refúgio, tua alma é fantasia. O equilíbrio harmonioso das forças caóticas do universo, um paradoxo absoluto em sua perfeição. A irremediável tendência à entropia, a beleza da imprevisibilidade, toda a loucura e toda a sanidade, a alegria, a mania, o assombro, o espanto, o encanto. O encanto absurdo de você.

Depressão, Ansiedade, Paranoia, Perseguição.

É como se o cérebro estivesse tão doente que confundisse prazer e dor.
Como se a dor fosse bem-vinda, ao invés de indesejada. Um alívio, uma doce surpresa, um torpor que acalenta.
É como se você não quisesse mais que fosse embora. Como se trouxesse alívio. Como se, ao invés de extirpar a dor, você goste que ela fique.
É a sua nova zona de conforto. E conforta mais que todo o resto das coisas.
Até que dói tanto, tanto, que parece que não vai suportar. Dói sem parar, por horas, por dias. Você não sabe mais se a dor é constante ou se ela aumenta.
Mas é insuportável. Incomoda o dia inteiro, a noite inteira, a cada segundo, sem parar. Nunca para. Não dá trégua, não melhora.
Você não vê chance de melhorar, não tem expectativa, não há esperança para nada mais, não tem luz no final do túnel, não tem luz no final do caminho. Se é que existe um caminho.
Porque, ao que parece, não existe. Não tem pra onde correr. Não tem pra onde ir. Você se vê completamente perdido, num espaço tão vasto que é assustador.
E, apesar de não ter sentido, você se sente claustrofóbico. Sufocado. Como se o mundo se fechasse ao seu redor, ao redor da sua garganta, e de repente, você não conseguisse respirar.
E então, você percebe que não está respirando direito mesmo. Que está ofegando. Que seu coração bate tão rápido que parece que vai sair do peito. E então dói. O peito dói.
E você está tremendo. É como se cada músculo do seu corpo contraísse involuntariamente. É terrível.
Perder o controle sobre si mesmo é terrível. Perder o controle sobre seu corpo, sua mente, como se você fosse escravo das vozes na sua cabeça. E elas dizem tanto! E nunca deixam em paz.
Dizem que você não é bom o suficiente. Que você nunca foi, e não há a mínima possibilidade de ser, um dia. Dizem que ninguém se importa, que as pessoas só fingem porque são curiosas.
É natural do ser humano ser curioso, afinal de contas. E, quando você não está lá, riem de você. Riem pelas suas costas daquilo que você sente. Do pouco que divide com poucos. Talvez com ninguém.
Dizem que eles tem razão. Você é risível mesmo. Não é merecedor da felicidade que eles tem, que eles demonstram. Não é merecedor da verdade deles, da sinceridade deles.
Não é merecedor de nada, além de conviver consigo mesmo, uma criatura suja e desprezível, que não tem o mesmo valor que um ser humano. Um bicho nojento que deveria ter nascido rastejando, se esconder nas sombras e se alimentar de detritos.
E você se pergunta, frequentemente, o que fez para ser assim, para passar por isso. Porque as vozes não se calam. Porque você ainda acredita nelas. Mas não vê como se soltar. Como deixar pra lá.
Porque sua cabeça é o seu pior inimigo todos os dias da sua vida.
E então a dor física começa a parecer uma saída. Quando você se machuca acidentalmente, você relaxa e se distrai da dor que vem de dentro.
A loucura da mente é tamanha que a dor física se torna algo bom, prazeroso até. E aí, algumas vocês, você procura isso. E mesmo quando não é bom, quando passa do limite, você suporta. Porque é muito mais suportável do que a outra dor.
E porque, afinal de contas, você está convencido de que merece. Merece a dor e o sofrimento físico. Merece as marcas no corpo, tão fundas quanto as da alma. Merece não ficar em paz, nunca, nem quando você dorme.
Nem quando você dorme. Porque os sonhos, muitas vezes, são piores que viver a realidade. Porque as crises de insônia são horríveis, mas perto dos pesadelos, são reconfortantes. Afinal de contas, você nunca descansa realmente. Porque sua mente nunca descansa. E então, ter o corpo cansado é coerente, e é mais fácil de lidar.
E no final das contas, você nunca sabe o que está fazendo. Não distingue mais certo do errado. Nunca sabe exatamente o que está sentindo. Não entende nem sozinho, não saberia explicar pros outros. É um sofrimento agonizante, angustiante, e cada dia que passa, o buraco parece mais fundo. Cada dia mais difícil de levantar, cada dia mais difícil de seguir. Cada dia mais difícil de buscar ajuda.
Não é como se nada valesse a pena, nem ninguém. O mundo vale a pena, e você sabe disso. É como se você não valesse a pena pro resto do mundo. Não vale nada pras pessoas, nem pras situações, nem pros lugares. Ninguém liga realmente, ninguém nunca vai entender da tua dor. Ninguém se importa.
Ninguém se importaria se você fosse. Ninguém se importaria se você partisse, se você desaparecesse para nunca mais voltar. Ninguém ligaria se você morresse. As pessoas tem as vidas delas, das quais você sabe que não faz parte. As quais você está ciente que só assiste. E quando você age, fala, interfere, sabe que incomoda, sabe que ninguém quer você ali. Sabe que todo mundo ficaria melhor se você sumisse.
Então não, não é um chamado desesperado por atenção. Quando você se vai, é apenas para calar as vozes. Para anestesiar a dor, de uma vez por todas. Se você se vai, é porque você não aguenta mais, está cansado demais, exausto demais. Anseia pra encontrar a sua paz; a tal da paz interior, que os outros procuram, que você não consegue encontrar.
Porque o seu interior tem de tudo, menos paz.
Tem gritos e resmungos, tem cheiros fortes e tão ruins que causariam ânsia. É tudo pútrido, fétido, roto. Tem monstros, demônios e abominações, está tudo escuro, mas é possível enxergar o horror, o ambiente hediondo, sangrento, a carnificina que acontece dentro de você. Causa repulsa, aversão, pavor. Pavor de si mesmo. De tudo que você sente, de tudo que você viu, de tudo que você é.
Todo o terror que você quer apagar. Tudo aquilo de que você quer fugir.
E você espera, independente da sua fé, das suas crenças – ou falta delas – que, no depois, se houver um depois, e seja lá onde for, haja um lugar onde você se encaixe. Onde não sinta mais dor. Onde não haja mais trevas no teu coração. Onde se sinta completo, sinta que pertence.
Onde você encontre a sua paz.

Sobre tudo aquilo que me faz gargalhar sozinha.

Eu acho muito engraçadas as pessoas. Acho engraçado como elas entram na sua vida, meros espectadores, sem que você saiba por quanto tempo vão ficar. Acho engraçadas as situações , as conversas, os ideais. Acho cômico como, chegando como espectadores, tomam a liberdade de agir como roteiristas, diretores e protagonistas. Da sua própria vida. Clamando, a quem quiser ouvir, que te conhecem melhor que você mesmo. É o que me faz gargalhar sozinha.

Dou risada sozinha porque sempre fui sozinha. Porque passei por tudo sozinha. Tudo que foi importante na minha vida, tudo que construiu quem eu sou, tudo que me trouxe até aqui sozinha, tudo que me ensinou a ser sozinha, eu aprendi completamente sozinha. Quando eu precisei de ajuda, apoio e direção, só quem estava presente era eu mesma. Quando eu chorei de desespero, implorei por colo, me senti perdida, o único consolo que tive fui eu.

O que me faz gargalhar sozinha é ser chamada de orgulhosa. Não tenho como discordar. Trilhei o meu caminho até aqui sozinha. Enfrentei meus demônios sozinha. Calei as vozes da minha cabeça sozinha. Levei porrada sozinha. Caí sozinha e aprendi a levantar sozinha. Sigo de cabeça erguida e peito aberto, sozinha.

Escolho as pessoas que quero manter na minha vida. Escolho quem deixo que se aproxime. Mas não consigo controlar o fato de, por ser absolutamente solitária, afastar quem chegue perto pra ajudar. Não consigo podar o comportamento agressivo. Não consigo recolher as garras diante de um problema. Acabo ferindo tudo e todos à minha volta. Acabo estragando tudo. Acabo afastando todos. E sempre termino como comecei: Sozinha.

É por esses motivos que, tenho certeza, vou morrer sozinha. E a ideia não me assusta, nem de longe. Ficar sozinha é o que me traz paz. Me deixa tão tranquila que consigo até gargalhar sozinha.

Não me traga flores.

Não me traga flores. Não me compre um buquê e mande me entregar. Porque, você vê, eu não vejo o mundo como o resto do mundo o vê. Eu sou de me impressionar com sorrisos bobos em olhos escuros, com carinhos de tirar o fôlego e olhares para suspirar.

Eu levanto da cama com as ideias bagunçadas todos os dias. Eu saio de casa com o cabelo bagunçado todos os dias. A desordem que reina no meu quarto, reina no meu templo. Embaralham-se pensamentos, como cartas num truque de mágica que não surpreenderia ninguém. E que, provavelmente, nem vai funcionar.

A tempestade barulhenta batendo na janela, condiz com tudo que sou, e conduz tudo o que sinto. Eu sou toda entrega, toda poesia. Um turbilhão inquieto que inspira calmaria.

As nuvens escuras que você acorda esperando não ver; o aconchego de um dia nublado que o mundo todo ignora. O ponto fora da curva, o ponto fora de casa; o ponto de vista que ninguém vê. O ponto-cego que escurece a luz, que distorce a imagem, o jogo dos erros de um erro só.

A descrença na diferença, quando a identidade se tornou um padrão; “Vamos tomar um chá?” ao invés de “Vamos tomar um café?”. As cores visíveis na escuridão. A primavera e as trevas reinando em harmonia, ao mesmo tempo, num lugar só.

Melancolia ad infinitum.

Porque é essa a essência da minha vida. Uma tristeza interminável, arrebatadora, que ressurge do nada e toma mais espaço do que eu posso suportar. Uma solidão dolorida, um vazio eterno no peito. Uma vontade louca de correr, gritar, bater. E outra vontade maior de não fazer nada. Um lavar a cara com água salgada até desidratar o corpo. Uma dor excruciante simplesmente por existir. Uma necessidade de sumir do mundo, de nunca ter nascido, de nunca ter existido, de implodir, sem ruído ou tremor, sem jamais preocupar ou chamar atenção de alguém. Uma timidez infinita, e um ódio absoluto por ser eu.

Eu não sei lidar

Não sei o que acontece, mas hoje eu tô triste. Na verdade, eu sei sim o que acontece, mas não quero conversar. Não quero falar nada, não quero remexer. Nem posso.

Nesses dias assim, eu só preciso ficar quieta e sozinha. Absolutamente sozinha. Sem olhar pra ninguém. De preferência curtindo a depressão deitada, na minha cama, no meu quarto, ler alguma coisa, bem quietinha. Não ver ninguém, nem falar nada. Não falar nem sozinha, sequer me olhar no espelho.

Chorar. Chorar à vontade, mesmo que sem motivo. Deixar as coisas fluírem, expulsar as coisas ruins daqui de dentro. Sem pressa, sem pressão, deixando tudo correr no seu tempo. No meu tempo. No tempo que eu quiser.

Nesses dias em que eu não sei lidar comigo.

Ressaca de domingo.

Eu queria saber dizer o milhão de coisas que passa pela minha cabeça todos os dias. Eu queria poder me lembrar, eu queria saber como expressar. Muitas vezes eu deixo de escrever, e fico apenas ensaiando, falar tudo o que pensei, no dia seguinte, quando eu te vir.

Mas a verdade é que essa ressaca de domingo é mesmo assim, toda vez. Não, nem sempre eu esqueço quando durmo. Na verdade eu geralmente sonho com mais coisa ainda pra dizer. Mas eu nunca consigo. Porque quando você chega, quando eu olho nos seus olhos, eu esqueço de tudo.

Eu já disse isso muitas vezes, mas olhar nos seus olhos sempre faz isso comigo. Faz falhar uma batida do coração, faz prender a respiração sem querer. Faz falhar as pernas, desde o primeiro dia que eu te vi. Faz sorrir e esquecer o mundo ao redor. E só de lembrar, já esqueço tudo o que tinha pra falar de novo.

Mas essa ressaca de domingo é assim. Os pensamentos vêm e vão.

Dá saudade do seu abraço, do seu toque, do seu cheiro. Dá saudade do seu corpo no meu, da sua pele na minha, da sua boca na minha, da minha boca na sua, da minha boca na sua pele, da sua boca no meu corpo, da minha língua e dos meus dentes percorrendo você inteiro, dos seus rosnados sufocados, de sentir seu corpo se contorcendo embaixo do meu, das suas caras, do jeito como você fecha os olhos, do jeito que as suas pernas se mexem. (Sim, tô viva, nunca estive mais viva, e nunca fui mais feliz, desde que eu tenho você pra mim) De todo o seu jeito e de todos os nossos jeitos, das nossas coisas, dos nossos motivos, das nossas lembranças. Nessas ressacas de domingo, eu me sinto presa, intimamente presa a todos esses momentos.

Mas é o tipo de amarra da qual eu nunca, nunca vou querer me soltar.

Melhor amigo

Ele com certeza é o tipo de cara que vai te fazer rir. Sempre, e não sempre que puder, mas sempre mesmo, a todo momento. Na verdade, ele é mais o tipo de cara que vai fazer todo mundo rir. Seus amigos em comum, os seus amigos que ele conhecer, seus pais, os pais dele, e se possível até os filhotinhos. Mas quando ele chorar, ele vai te procurar, e somente a você. Só você sabe como ele fica quando o mundo parece de repente difícil demais. E então você percebe que o mundo pra você parece injusto demais.

Ele é o tipo de cara que exagera o tempo todo. Ele vai fingir estar muito mais estressado do que realmente está, e também vai fingir estar muito mais triste do que realmente está. Mas tudo em nome da comédia. Ele também vai parecer exagerado quando estiver feliz. Todo mundo chamará de empolgação. Mas você sabe que não. É que a felicidade dele é assim mesmo, exposta, expansiva, contagiante. Absurdamente linda.

Ele pode ser irônico ou sarcástico também. Talvez a maior parte do tempo. E isso pode causar muitos desentendimentos. Mas você sabe lidar com ele. Sabe a hora de rir, e a hora de apoiar, mesmo que você não concorde. Sabe a hora de ser tão ou mais irônica junto com ele, seja defendendo o mesmo ponto ou batendo de frente. E vocês vão rir juntos no final, porque é assim que funciona. É assim que é pra ser.

Ele é o tipo amigão carinhoso, que sempre vai arranjar um jeito de aconchegar todo mundo. Ele tem aquele jeitão “coração de mãe” só que mais divertido. E dá aqueles abraços de urso. Ele é o cara com quem a galera sempre pode contar, nas horas boas e ruins (sejam elas tristezas ou bebedeiras). Todo mundo sabe que ele vai estar sempre lá, sempre pronto pra ouvir e ajudar. E ele sabe que quem vai estar sempre lá pra ele é você.

Talvez ele seja o tipo de cara que, como o meu melhor amigo, é expansivo demais. Fala demais, argumenta demais, gesticula demais. Talvez, ao contrário disso, ele prefira se reservar, com seu sorriso sincero e grandes olhos observadores. De qualquer forma, no meio da roda de muitos tantos outros amigos, ele sempre se destaca. E você nunca permite que ele seja excluído da piada ou da conversa.

Porque ele é um cara incrível com quem você sabe que pode contar. Ele é um cara que vale a pena. Mesmo que seja pra ser apenas amigo.

Boa noite e até mais.

Porque foi isso que eu te disse, no final daquela conversa. Eu disse que te amo muito também, e essa é a mais absoluta verdade que o universo já pode presenciar nesse planeta. Lembra que eu te disse que estava passando mal? Eu não quis dizer o que era. Porque eu queria que você fosse dormir tranquilo. Porque eu sei que você acorda cedinho amanhã. Porque eu achava mesmo que como qualquer mal-estar passageiro, ia passar. Mas não passou. E ainda tá aqui, incomodando. Esse aperto no peito, essa reviravolta na barriga, essa enxaqueca que não vai embora. Essa vontade de chorar até desidratar o corpo, por mais dramático que isso pareça.

Porque o que eu fiz foi ruim. Eu machuquei você. Eu nunca tive a intenção de fazer isso. Mas eu fiz, e é isso que importa. Eu feri você, e isso me feriu também. Eu jamais quis que algo assim acontecesse, e acho que devo milhares de desculpas. Não importa quanto tempo passe, nem o quanto a gente converse sobre, parece que tá sempre lá, como uma sombra ameaçadora perdida num passado sem data definida, esperando pra atacar de novo. Eu acho que a gente não devia se deixar machucar por ela. Mas tá complicado, amor. Porque você se deixa tocar de novo. Porque você se deixa tocar de novo?

Isso machuca você, e não tem que machucar. Você veste a culpa como se ela te servisse. Mas querido, eu preciso te contar: Ela fica desconfortável porque ela é alguns números menor. Ela não é sua. Nunca foi. Mas você continua me pedindo desculpas, assumindo uma responsabilidade que não é sua. Não é sua culpa, não é sua responsabilidade, nunca foi. E deixa eu confessar uma coisa? Quando uma coisa te machuca, ela me machuca o mesmo tanto, ou até mais. Então, se não for pedir demais, me ajuda a esquecer isso de uma vez por todas? Me ajuda a deixar isso pra lá? Me ajuda a, daqui pra frente, lembrar disso rindo, de como a gente foi um dia? De como a gente exagerou naquele dia?

De como, depois daquele dia, nada mais consegue se por no meio da gente? Me ajuda a curar a gente dessa mágoa pequenininha e chata que insiste em voltar? Me ajuda a mandar ela embora quando ela voltar? Me deixa ser o seu ‘Patrono’ sempre que algo ruim acontecer? Corre pra mim, corre pros meus braços e me deixa te ajudar? Por favorzinho, deixa? Deixa tudo isso pra lá? Porque eu tô tentando. Tô tentando aceitar o que eu fiz. Tô tentando me perdoar também. Tentando dissipar minha parcela de culpa. Tô evitando tocar no assunto com a mesma frequência que eu penso sobre. Tô tentando colocar minha cabeça de volta no lugar

E eu posso te pedir uma coisa? Para de pedir desculpas, porque se alguém é completamente isento de culpa nessa história, essa pessoa é você. Porque a culpa daquilo tudo, daquele dia, foi toda minha, por mais que você negue. Eu sempre acabo fazendo essas coisas. Machucando as pessoas, porque falo sem pensar, porque explodo na hora da raiva. Você só foi mais uma vítima do meu mau humor. E sobre ele, só eu posso responder. Então, de uma vez por todas, aceita meu pedido de desculpas, meio desesperado, meio desastrado, como eu sempre sou. Meio choroso, meio dramático, meio exagerado pra não perder o costume. Só me perdoa do fundo do seu coração. E se perdoa também, vai?

Porque pra mim, esse assunto tá encerrado faz tempo. ❤